O Projeto de Extensão Teatro nas Escolas está vinculado ao Curso de Teatro - Licenciatura da Universidade Federal de Pelotas e tem por objetivos: estimular o desenvolvimento da criatividade e ampliação do imaginário na criança e adolescente através do contato direto com jogos e exercícios teatrais e promover a prática no ensino de teatro aos acadêmicos envolvidos.

Coordenação
: Prof.ª Fabiane Tejada da Silveira; Profª Vanessa Caldeira Leite.


Bolsistas: Acadêmicos Dionata Lopes;
Andrea Guerreiro; Ingrid Duarte

segunda-feira, 11 de julho de 2011

O Projeto na Escola Especial Alfredo Dub, por Andressa Lopes


As oficinas de teatro na Escola Alfredo Dub iniciaram-se no dia 26 de abril de 2011 e estão sendo ministradas todas as terças-feiras, durante o período de uma hora. Ao todo foram aproximadamente dez horas de oficina ministradas, com quatro alunos do 9° ano do Ensino Fundamental.
A experiência que está ocorrendo na Alfredo Dub vai além do ensino de teatro para os alunos surdos, é o exemplo de muitas pessoas que não tem contato com a comunidade surda, que ignora que esta tem seu próprio código linguístico e que não precisa necessariamente ter oralidade, que o surdo não precisa se incluir na comunidade ouvinte desta forma, sendo forçado a ser como os ouvintes. É o que o ditado popular chamaria de “o outro lado da moeda”. O que acontece quando o ouvinte tem seus primeiros contatos com os surdos, o que fazer? Fazê-los compreender o ouvinte ou este ouvinte aprender a linguagem dos surdos? Como fazer um teatro onde ouvintes e surdos interajam sem prejudicar a compreensão de ambos?
Quem hoje em dia não anda com fone de ouvido pelas ruas, ônibus e ambientes escolares? Nossa cultura é presa pela sonoridade e isso ocorre nas escolas, onde os barulhos dos sinais avisam a hora de entrar, do intervalo, das trocas de aula e da saída. A própria disposição das carteiras em sala de aula, revela certa “valorização” da audição em detrimento do campo visual.
Desde o início sou acompanhada pela Valéria, que tem sido uma tutora e intérprete, pois com certeza, para qualquer grupo que se há um conhecimento do código de comunicação, é mais fácil ensinar teatro ou qualquer outra disciplina. No entanto, apesar de a comunicação ser mais lenta, os próprios alunos tem uma imensa vontade de me ensinar a linguagem.
O teatro está inserido no cotidiano do surdo em suas expressões faciais, porém notei um medo do uso do corpo, uma repressão da liberdade corporal, de se alongar, de exercitar o corpo.
Foram aplicados jogos dos livros Improvisação para o Teatro, da Viola Spolin (1987), onde foram trabalhados exercícios das sessões de orientação (dividida em quatro partes), trabalhando o envolvimento dos alunos com objetos reais e imaginários – materialização do imaginário: peso, forma, volume; - com a contagem de objetos que auxilia na observação e criação de um ponto de concentração – Onde estou? Quantos anos tenho? O que estou fazendo? – e também a percepção do corpo como parte do todo, como ferramenta que precisa de movimento, de sensações.
Do livro Jogos para atores e não-atores do Augusto Boal (2004) foram utilizados alguns exercícios da Primeira série: exercícios gerais; Segunda série: as caminhadas; Terceira série: massagens e Quarta série: gravidade. Exercícios que trabalham com a coordenação motora, reconhecimento do espaço (dos diferentes planos existentes, das possibilidades de trajetórias) e como realizar ações em grupo ou em dupla (necessidade de prestar atenção no que o colega está fazendo).
Foram propostos alguns jogos populares: como vivo-morto (neste jogo, os alunos batiam uma palma para o “vivo” e duas para o “morto”, diferente do jogo dos ouvintes onde essa duas palavras são verbalizadas), detetive-ladrão e stop (este jogo foi escolhido como método para os alunos se familiarizarem com a escrita e para que o professor ouvinte se familiarizasse com os sinais desconhecidos, para mim, no caso).
Considerando o pouco tempo cronológico deste trabalho sabe-se que há muito que se fazer, dentro do Dub e de outras escolas que atendem crianças especiais, da Andressa como ouvinte, como futura professora e de outros tantos ouvintes, professores e instituições que não se atêm o quanto pode ser produtivo levar teatro aos surdos e os surdos ao teatro. Luz, câmera, atenção!

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